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Polícia pede que Bolsonaro seja indiciado por espalhar desinformação sobre a COVID

A polícia federal brasileira pediu que o presidente Jair Bolsonaro seja acusado de divulgar informações falsas sobre um surto de coronavírus que matou mais de 680.000 de seus cidadãos, incluindo alegações falsas de uma ligação entre a Aids e as vacinas contra a Covid.



A resposta anticientífica de Bolsonaro a uma doença que ele chamou de “um pouco de resfriado” foi condenada internacionalmente e alvo de um inquérito no Congresso em que o populista de extrema-direita foi acusado de atrasar deliberadamente a compra de vacinas e promover “curas” charlatãs como hidroxicloroquina.




Na noite de quarta-feira, um investigador sênior da Polícia Federal teria escrito ao Supremo Tribunal Federal pedindo que Bolsonaro fosse interrogado e autuado pelo crime de incitação, quando alguém incentiva outra pessoa a cometer um crime.



Esse suposto crime, punível com até seis meses de prisão, está relacionado a uma notória transmissão nas redes sociais em outubro de 2021, que foi posteriormente removida pelo YouTube e Facebook.



Na transmissão deletada, Bolsonaro alegou falsamente que máscaras faciais – cujo uso compulsório ele repetidamente desrespeitou – foram responsáveis por muitas das mortes durante a pandemia de gripe de 1918.



“[O presidente] de forma direta, espontânea e consciente disseminou a desinformação de que vítimas da gripe espanhola de fato morreram em decorrência de uma pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscaras, incutindo na mente dos espectadores um verdadeiro desincentivo ao seu uso. na luta contra a Covid numa altura em que o uso de máscaras era obrigatório”, refere o boletim de ocorrência.



Na mesma transmissão ao vivo, Bolsonaro afirmou falsamente que estudos do governo no Reino Unido sugeriam que pessoas totalmente vacinadas estavam desenvolvendo Aids “muito mais rápido do que o esperado”. Autoridades britânicas rejeitaram as alegações.



Em seu relatório, a investigadora da Polícia Federal Lorena Lima Nascimento disse que a denúncia falsa pode gerar “alarme público por um perigo inexistente” e constitui contravenção.



A resposta fracassada de Bolsonaro ao Covid se tornou uma questão central na campanha eleitoral presidencial, que começou formalmente nesta semana antes de uma votação de primeiro turno em 2 de outubro.



Na terça-feira, o favorito da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, usou seu primeiro evento de campanha para atacar a reação de Bolsonaro à pandemia, dizendo aos apoiadores que seu rival “não derramou uma única lágrima” por suas vítimas e parecia estar “possuído pelo diabo”.



Dirigindo-se a Bolsonaro, Lula perguntou: “Quantas crianças agora são órfãs porque você era um negacionista e não acreditava na ciência ou na medicina?”



O inquérito da Polícia Federal sobre os supostos crimes de Covid de Bolsonaro foi decretado em dezembro passado, ao final de um inquérito do Congresso sobre seu manejo da emergência de saúde pública.



Bolsonaro ainda não comentou os relatórios, mas na quarta-feira afirmou que seu governo fez “muito” para combater a pandemia.